O número de carros já denunciava que algo muito importante estaria ocorrendo no Ylê axé Omindewá, uma das casas de culto aos Orixás mais tradicionais da região sul da capital paraibana, fundada pela yalorixá Lúcia de Fátima Oliveira. Lá dentro num salão lotado e calorento uma platéia atenta assistia a uma espécie de cerimônia meio política, meio religiosa, cuja principal atração era um alto funcionário da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o sr. Nilo Nogueira. A mesa ainda seria composta por representações do Governo do Estado (pela Secretaria de Desenvolvimento Humano), da Prefeitura de João Pessoa e da Conab-PB.
Uma parcela significativa do movimento negro local também acorreu ao Ylê, especialmente outras lideranças religiosas locais, como Mãe Renilda, Pai Erivaldo, Mãe Chaguinha e Mãe Lúcia (Omidewin). “Vimos através desta, solicitar de vossa senhoria, a possibilidade do aumento da quantidade de cestas alimentares da Paraíba, que hoje é de 400 (quatrocentas) cestas e restrita a Grande João Pessoa, sentimos a necessidade da expansão desta distribuição para todo Estado, aumentando no mínimo em mais 700 (setecentas) cestas, devido a dificuldades de acesso do nosso povo de axé que se encontram no interior do Estado”, diz um trecho do documento entregue ao representante da Seppir.
A reunião pôs fim a uma antiga polêmica: opositores de Mãe Lúcia iniciaram uma campanha de desqualificação do trabalho pioneiro que sua Casa faz na área de segurança alimentar nos terreiros. Durante a reunião, Mãe Renilda chegou a citar que pessoas ligadas ao seu Ylê reclamaram de que durante a entrega das cestas, meses atrás, haviam sido humilhadas durante o processo de distribuição no Omidewá.
Durante o evento, no Valentina de Figueiredo, mesmo com as reclamações, todos os que pediram a palavra ressaltaram a importância do trabalho iniciado por Lúcia d’Oxúm. Para Verônica Loureiro, da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra, “o mais importante é garantir um processo com transparência, para evitar esse tipo de denúncia”.
Independente das questões políticas, que cercaram o evento, o que fica de mais marcante é a presença das pessoas em busca do alimento, como o caso da dona Zefinha, que veio numa carroça de sua comunidade, na praia de Jacarapé, litoral sul, para receber as onze cestas que foram disponibilizadas para membros de sua família. “Às vezes de meio dia a gente já recebeu e tá voltando, mas hoje demorou mais”, conta a senhora, aparentando 60 anos.
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